A Origem dos Guardiões
Muita diversão para crianças:
Quando Avatar
chegou aos cinemas, muita gente o criticou por ser "mais do mesmo". O
que essas pessoas não viam era que a fórmula podia ser bem conhecida,
mas estava tão bem empregada e embalada em um cenário tão inovador, que
tudo o que a história precisava fazer era apenas levar o espectador para
aquela viagem - o que fazia com primor.
A Origem dos Guardiões (Rise of the Guardians,
2012) tem muitas destas características. Os personagens, por exemplo,
são velhos conhecidos (Papai Noel, Coelho da Páscoa, Fada dos Dentes e
Sandman), mas com algumas mudanças: o Papai Noel está todo tatuado e
carrega enormes espadas, o Coelhinho da Páscoa tem 1,85m e atira
bumerangues, a Fada dos Dentes balança suas asas e espalha charme por
todos os lados e o fofíssimo Sandman é um gorduchinho que não fala, mas
se expressa usando desenhos.
Este cenário foi criado pelo escritor William Joyce (ganhador do Oscar 2012 de Melhor Curta-Metragem em Animação por The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore,
que ele escreveu e dirigiu) em sua franquia de livros "Guardians of
Childhood" (Guardiões da Infância). A boa notícia é que mesmo os que já
conhecem a série literária vão ser surpreendidos com a história, que se
baseia neste universo, mas o expande, buscando novas situações para os
personagens.
A trama começa 300 anos depois da última aventura dos
livros e mostra Jack Frost sendo escolhido pelo Homem na Lua para se
tornar um Guardião e assim ajudar a acabar com o novo plano do Breu, o
Bicho Papão.
Porém, Jack Frost é uma espécie de Wolverine dentro deste mundo e
prefere trabalhar sozinho. A sua cerimônia de entrada para a
super-equipe tem sequências engraçadas (como os elfos tocando trombetas)
e outras mais dramáticas (como a hora que o bom velhinho mostra a Jack
que ele precisa descobrir qual a sua missão, o seu centro). Toda a trama
é muito bem amarrada e gira em torno da crença das crianças nestes
seres fantásticos.
A partir do momento que elas deixam de acreditar
estes seres mágicos vão ficando mais fracos. É este o plano do Breu para
desestabilizar o grupo e o mundo, deixando tudo sombrio.
A criação do universo 3D
A neve de Jack Frost, a areia de sonhos do Sandman, os papeizinhos
picados que caem da oficina do Papai Noel, enfim todo o universo foi
pensado para levar o público para dentro da tela com um 3D que se recusa
a ficar apenas jogando coisas na cara do espectador. Outro ótimo
exemplo de utilização técnica da mídia são os efeitos surround de som,
que ajudam o vilão a confundir Jack entre as sombras de seu
esconderijo. São detalhes que podem passar despercebidos, mas fazem toda
a diferença, assim como a contextualização de um efeito natural como a
aurora boreal, que vira uma espécie de "batsinal" que convoca os
Guardiões.
Após ver tanto a versão original quanto a dublada em português dá para dizer que um Jude Law chama a atenção como o Pitch (Breu), o sotaque australiano de Hugh Jackman é metade da graça do Coelhinho da Páscoa e Alec Baldwin
é um ótimo Papai Noel, mas a versão brasileira acerta justamente na sua
discrição, ao não tentar chamar mais atenção do que os personagens que
estão na tela.
A Origem dos Guardiões pode não ter um arco tão inovador quanto o universo em que está inserido, mas sabe muito bem como divertir o seu público. Prova disso é que já tem gente por aí chamando o filme de Os Vingadores do maternal - e acho que não dava para receber elogio melhor do que este em 2012.
Crítica:Marcelo Forlani
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